Minha vida de criança foi uma epopéia – parte 1

Sérgio Mattar, criança

Eu fui tremendamente tímido.

Era tanta aquela timidez que fazia de mim outra pessoa. Eu até acho legal ter um certo acanhamento, algo que nos proteja de nós mesmos, de nossas loucuras, extravasamentos exagerados.

Funciona como um senso crítico, penso.

Não bastando isto e, por ter minha arcada dentária projetada e meus dentes frontais separados, meu irmão me dera o apelido de “Limpa Trilhos”. Aquilo fora mortal pra minha infância e início de puberdade…

Sentia muita vergonha.

Mas eu não era de todo mal, tinha consciência sobre mim mesmo.

Meu aspecto me deixava com expressões severas, sérias, absolutamente contrárias àquele menino que eu verdadeiramente era.

Vivia duas vidas.

Sérgio Mattar no colégio Dante Alighieri

Na escola procurava sempre o resguardo da aparência, assim como em todos os outros lugares em que ia. Na classe eu ficava no conhecido “fundão”, onde normalmente “habitavam” os alunos mais travessos.

Fazia aquilo por defesa. Era isto.

Como sempre há um “mas”… Os professores tinham em mim como a um deles, os baderneiros. Não era, mas o trato era como se fosse.

Vista aérea do colégio Dante Alighieri

Claro, o dia a dia no fundão da classe te desconcentra, te desliga do restante dos outros alunos, até as aulas não eram sequer percebidas, muito menos entendidas. Eu pertencia à turma dos “terríveis” sem sê-lo.

Mas como tudo, também havia o lado bom daquilo, o lado B do disco.

O outro lado da moeda.

Claro, é assim que funciona a vida.

As menininhas mais assanhadas gostavam dos meninos menos sérios, se me entendem!

Dentuço e envergonhado, como eu iria lidar com aquela situação tão conflitante dentro de mim?

Porém, fui me apercebendo que, os alunos do fundão da classe eram os que mais esporte praticavam, o que na época, era matéria obrigatória, e os que melhor se davam nas aulas de música.

Interessante este viés dos “terríveis” meninos travessos.

Fanfarra do colégio

Tinha ensaio da Fanfarra, pronto, lá estávamos todos do fundão. Comecei tocando tuba, depois fui promovido a repique solo, pelo meu domínio rítmico.

Aquilo me dava um Status considerável na escola. Você não imagina o que representava para os alunos, nos desfiles de apresentação da fanfarra, a cadência rítmica de seus passos e, aquilo era minha função determinar.

Era o máximo! Orgulhava-me por isso! Daí para a musica foi um passo.

Fiz anos o conservatório de música. Na verdade, iniciei modestamente aulas de piano com uma professora particular de nome Neuza. Uma simpatia de pessoa, porém, enorme de gorda, dona Neuza me obrigava a dividir o banquinho do piano com ela, cada um ficando com uma banda da bunda… apoiados, sendo que a dela era mais abundante que a minha.

Foi daí que optei pelo conservatório de musica de Pinheiros…

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