O Poder da Mensagem.Ouvia a Rádio Bandeirantes.
Milton Parron estreava um programa chamado “Memórias”. Até então desligado e absorto em meus pensamentos, fui me comovendo a medida que Parron enaltecia o genial Hélio Ribeiro (eu o conhecia tão bem) e lembrando que quando morreu seu estado era o de quase pobreza. Realmente cidadãos de primeira grandeza neste país acabam como acabam, quase pobres, indignos e, mais grave, sem “vida nas suas idéias”. Quantos excepcionais artistas, homens sensíveis, com pensamentos suaves e brandos, não conseguiram sobreviver a malévola capacidade engenhosa dos medíocres?
Pergunto por Mário Pamponet, talvez o maior experimentador de imagens que este país já teve. Foi muito injustiçado. Recordo-me que outros diretores de TV, nossos contemporâneos, minguamente talentosos, hoje são ricos proprietários de terras, de negócios obscuros ou puxa-sacos no entorno do poder. Os talentos precisam de Anjos-de-guarda para se protegerem dos aproveitadores, usurpadores de idéias alheias, coisa freqüente no nosso ofício.
Por que Hélio Ribeiro?
O italiano era um visionário, conhecia os meandros da comunicação em rádio como poucos. Seus programas eram verdadeiras festas. Não me recordo de talento que por ele não tenha passado. Na época em que já batia sua cabeça no teto das possibilidades, mudou-se para Nova York onde imaginava que pudesse dar vazão ao seu incontrolável temperamento criativo. Sempre que ele podia telefonava contando-me sua idéias, seus projetos, seus sonhos, enfim. Quando vinha ao Brasil íamos ao Almanara do Iguatemi e de lá para os bancos nos corredores do Shopping onde nos deixávamos embriagar por idéias, ideais e compromissos com nosso povo.
E o Edson Leite…!!!
Com todas as contradições e equívocos que a pessoa do Edson Leite possuía, talvez, tenha sido ele o primeiro grande criador da grade horizontal, hoje conhecida nacionalmente na programação da Rede Globo. Sem tirar o mérito da grade global, justiça se faça a programação da TV Excelsior, pensada por Edson e viabilizada por Alberto Saad, ambos mortos.
No livro “50 Anos da …” os coadjuvantes se colocam como protagonistas e os protagonistas, assim como Salathiel Coelho, que se encontra morando em Poços de Caldas, se alimentando de sonhos e projetos como sempre fez, coisa que aliás o caracteriza, idéias, projetos… Vive hoje modestamente, por ter o Sistema fechado suas portas para ele.
Sem medo de errar Boni deve sua entrada à televisão ao Salathiel Coelho. Foi a única pessoa das Emissoras Associadas que entendeu o que aquele menino brilhante, fazia sem destino, pelos corredores da TV Tupi (São Paulo). Levado pelas mãos de Salathiel, Bonifácio é conduzido à Cassiano Gabus Mendes que, mesmo sem paciência para o “chato” do Boni atendeu ao pedido de Salathiel e, a partir daí a história do Boni é sobejamente conhecida.
Mas que ele deve essa ao Salathiel Coelho deve…
O italiano do Hélio, com seu vozerão, pensava em comunicação como um todo… estávamos em mil novecentos e oitenta e poucos. Esta integração da multiplicidade das comunicações em veículos distintos para cada público já era pensamento dele e meu e, só nos dias de hoje estamos vivenciando o início deste processo.
Aqueles bancos do Almarana foram testemunhas disto.
Cadê Walter Sampaio???… brilhante jornalista, pupilo de Hermírio Sachetta e diretor de jornalismo da falecida Excelsior. Não por outro motivo que não o da intransigência do capital, fizeram de Walter um professor Universitário. Trabalhou e morou em Santos por anos. Hoje morto.
Hélio Ribeiro brincava com as palavras, se divertia consigo mesmo. Enérgico e complacente, tratava seus subordinados como seus iguais.
A televisão fez do rádio o seu conteúdo, ou melhor, a televisão virou um rádio “bonitinho de se ver” e, o rádio, firme e determinado, vem se tornando mais “imagem” através de seu conteúdo estético. Enquanto se conta as mais interessantes histórias de nossa televisão, não percebi profissional pensando a história da televisão que pelo menos há 25 anos já deveria ter sido reciclada. A repetição se dá a “olhos vistos”, ela se torna a cada dia que passa mais tecnológica, idéias antigas herdadas de nossa Rádio e da televisão americana da década de 40, com muita computação, gruas, trilhos, etc e tal… uma televisão antiga mas em alta definição e em resolução digital.
Obrigado Milton Parron por estar sempre nos lembrando dos verdadeiros heróis de nossa comunicação. Fazer televisão de passado e no passado como se faz nos dias de hoje é, como cumprimentar o público com o rádio alheio.
Bem, escrevi mais de televisão, porque uma coisa puxa a outra, conversaremos sobre outras áreas da nossa comunicação em outra oportunidade.
Sérgio Mattar
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