Pai e filho: Marcados pela traição – Parte I

Meu nome usual é Sérgio Mattar, que em árabe quer dizer Chuva, de meu avô paterno Alfredo, libanês de Beirute. Completo, meu nome é Sérgio Prestes Mattar, dos Prestes  de Itapetininga, interior de São Paulo. Na verdade deveria incluir o Dupré também, pois meu avô materno, Hermano, tinha descendência francesa. Ah…. e Barbieri, homenagem a minha avó materna, Maria. Prevaleceu  então, os pré-nomes da família de meu pai, Rubens.

Sérgio Mattar

Minha mãe e meu pai,carregando meu irmão mais velho-Binho

Rubens foi a pessoa mais visionária e ousada que conheci. Morreu em 1965 aos 49 anos de idade, eternizando seu nome em coisas que hoje faz o dia a dia da maioria das pessoas, lá adiante falaremos sobre isto…

Minha mãe, Edméa, sempre se esmerou pelo lar, na criação de seus filhos, abandonando-se totalmente como mulher viva e dinâmica. Substituiu sua ingenuidade vivencial por um brutal sentimento de medo e insegurança. Depois conversaremos sobre ela.

Do casamento de meus pais eu sou o  filho caçula, Roberto o do meio e Rubens o mais velho. Para meus irmãos separei um capítulo à parte.

Sérgio e Roberto Dupré,meu irmão do meio


Sobre as minhas várias mortes e as de meu pai, sub-titularei este trabalho como….

MATTAR , “A saga”

Capítulo I

Julho de 1966

Rua Joaquim Floriano – Itaim

Chovia muito naquela madrugada. A rua já começava a dar lugar as águas que corriam em direção contrária a que eu caminhava. O inverno castigava, sentia no meu corpo rígido minha boca tremendo. Eu estava bêbado. Era raro andar por aquela região de São Paulo, apesar de conhecê-la bem. Não tenho a menor idéia de como fui parar tão longe de meu rumo habitual, à rua dos Macunís, mais conhecida como Estrada das Boiadas no Alto de Pinheiros.

Brigava com a falta de coordenação e instabilidade no andar. Do meio fio ia bater nas paredes e daí pra correnteza que se formava forte.  Caía e me debatia pra levantar, travava uma luta imensa contra aquelas águas lamacentas que desciam pela Av Sto. Amaro. Minha cabeça não acompanhava nada do que acontecia, eu estava muito embriagado, idéias desencontradas, sem saber de onde vinha e para onde ia. A bebida desta vez tinha sido caprichada.

Meus cabelos lisos e compridos me atrapalhavam, cobriam minha visão, que aliás, já estava turva pelo álcool. Não me recordo exatamente o que vestia, habitualmente seria terno e de preferência em tons azuis.

Já estava na altura da rua Iguatemi, que  era simples continuação da Joaquim Floriano. O encontro das duas se dava em uma curva onde os bondes reduziam bastante sua velocidade e, daí seguiam em direção ao largo de Pinheiros, no antigo mercado municipal, batizado pelo povo de largo da Batata.

Apoiado a um poste eu queria entender o que estava acontecendo. Não sabia nem de longe o que fazer.

De repente… por de trás da minha visão desfocada tentava entender algo escrito do outro lado da rua. Havia uma igrejinha muito modesta de muros altos e cinza e um letreiro com letras bem fraquinhas  de pouco contraste. Atravessei a correnteza e ao aproximar-me apoiei numa grande lata de lixo, puxei o ar e comecei a buscar as letras uma a uma. Parecia-me ser um lugar pra velhos ou algo assim.

Era muito triste tudo aquilo. Aquele muro cinza, a igrejinha ao lado, o frio e o temporal que me alijavam por completo. Ajeitei-me melhor na lata de lixo e fixando a visão pude ler o que ali estava escrito:

“SANATÓRIO BELA VISTA”

Por que estaria indo para aquele lugar?


7 comentários sobre “Pai e filho: Marcados pela traição – Parte I

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *