“Gina” – Rede Globo/1978

Gina é uma destas coisas incompreensivas na nossa teledramaturgia.

A Rede Globo, campeã de audiência, Televisão de maior produção no mundo, expert em novelas, adapta uma obra da Sra. Leandro Dupré, “Gina”, obra improvável para o horário das I8 hs, foi concebida sem o menor senso de conteúdo.

Herval Rossano, diretor do núcleo de novelas das seis, quis porque quis exibir Gina, baseado no original da Sra. Maria José Dupré. Ponderei com ele que este romance fora extraído de um fato real que a autora teve conhecimento e, inspirado nele, escreveu o romance.

Gina era uma moça muito bonita, invejada pelas mulheres e cobiçada pelos homens. Pobre, fora convencida por uma senhora, empresária do meretrício a ajudá-la, visando, claro, o seu faturamento sobre aquela linda jovem. E assim aconteceu. Gina tornara-se garota de programas…

A década de quarenta foi especialmente radical em seus costumes e hábitos. A Segunda grande Guerra exalava o seu cheiro de pólvora pelos cantos do mundo, o medo estampava-se nas expressões das pessoas e as notícias que dela se tinha eram censuradas e limitadas a poucas linhas pelos periódicos.

Era um clima de depressão, tensão e de imenso radicalismo sócio-racial.

Nos salões  dos Campos Elíseos, Gina imperava deslumbrante naquelas roupas francesas que a empresária a vestia. Os homens não se intimidavam em cortejá-la, tudo faziam para conquistá-la, porém, sua cafetina a mantinha em rédeas curtas. Só no bom dinheiro.

Passado um ano, numa destas noites de inverno da Paulicéia, um senhor de meia idade, muito culto e rico, passou a visitar frequentemente aquela mansão, recebido e visto sempre com muita simpatia pela senhora do negócio. Reservaria  para  aquele banqueiro o que havia de melhor na casa, Gina…

Com o passar do tempo ambos se apaixonaram. A sociedade o repeliu e, as senhoras da sociedade fizeram campanha para que Gina fosse mandada embora para bem longe  do prostíbulo e de seus maridos também…

Gina e o banqueiro resolveram se casar. A vida do casal transformou-se em verdadeiro calvário. Já sem amigos, atravessaram aquela década à margem da sociedade, dos negócios do banco e de suas famílias… O tempo passou e o casal, se amando mais e mais, determinou-se a superar aqueles momentos de intensa dramaticidade com todo o amor que lhes empurravam adiante.

A sociedade aos poucos foi aceitando o casal em seu núcleo e suas vidas retomaram a normalidade.

O amor sempre vence, ele prosperou como banqueiro e ela, linda e plácida, tornou-se uma das mulheres mais eméritas deste país, com a instituição que ambos criaram na defesa dos necessitados e dos marginalizados pelas diversas formas de falso repúdio de uma sociedade rude e perversa envelopada em uma hipocrisia sem fim.

Poderia Gina ser uma novela para o horário das seis?

Claro que não. Pois fizeram assim mesmo. Obrigaram Rubens Ewald Filho a escrever uma novela baseada na sinopse do Herval Rossano.

Gina passou a ser uma pintora, conheceu um rapaz milionário e assim se encheu linguiça por seis meses.

Em nome do pessoal que produziu esta novela me penitencio à família de Maria José Dupré.

E assim aconteceu… foi mais um Campeão de Audiência.

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