Tempos de escola: “Minha primeira paixão”

Ela era linda.

Linda e meiga. Muito meiga.

Eu a conheci na escola, talvez no primeiro ano do colegial, não me lembro exatamente.

Dentro da minha timidez eu não me encorajava o suficiente para me declarar a ela. Sofria muito com aquela contradição. Talvez aos olhos dela, eu lhe parecesse antipático e soberbo. Sempre que dela me aproximava, literalmente empacava.

Dava-me o branco. Ficava pálido e vermelho. Suava frio.

Não me considerava a sua altura.

Sérgio Mattar

Escondia-me dentro de mim e tentava aparentar alguém que eu não era. Queria ser um superalguém, solto, alegre, desinibido, falante, etc, ser visto e admirado por todos e todas, um charmant, imaginem…

Minha mãe entre os filhos; Roberto e Sérgio

Minha mãe entendia de educação dos seus filhos por dois ângulos: O primeiro: empanturrá-los de comida e torná-los fortes e saudáveis. O segundo: manter seus cabelos cortados rentes, tipo militar… Radical, mesmo…

Réco é o nome deste corte de cabelo.

Sérgio Mattar no colégio Dante Aliguieri

Agora, se coloque em meu lugar e perceba as minhas poucas chances na pratica do jogo da sedução, da conquista, do savoir faire! Minha timidez, aquele cabelo rente, só meio topete como lembrança e. dentuço! Impossível, dentro dos meus parâmetros. Aliás, de qualquer parâmetro!

Fui me tornando rapaz e gradualmente dominando minha timidez. Já não usava o corte réco nos cabelos e meus dentes estavam quase perfeitos. Não me escondia mais das pessoas e me sentia bastante natural. Talvez, por tê-la conhecido num momento de justa imaturidade jamais consegui, na verdade, abrir minh´alma e meu coração pra declarar a ela os meus mais verdadeiros e profundos sentimentos.

Eu penso que ela sempre soube, porém, assim como eu, não confessou.

Meu amor adormeceu, mas jamais morreu.

O tempo passara e meus sentimentos pela menina do colégio continuavam intocados. Nutria grande amor por ela. Na vida nos tornamos amigos e cúmplices em nossos mais sagrados segredos, nas adversidades e nas alegrias, nos encontros e nas saudades… Na realidade e na fantasia.

Engraçada esta vida de Deus.

Apaixonei-me na escola pela menina mais linda e meiga.

Pois esta mesma menina eu encontro na Televisão Excelsior fazendo parte do seu corpo de baile anos depois… Eu estava vivendo uma vida diferente de quando a conheci. Era um modesto cabo-man e me escondia para ela não notar minha presença, pois certamente não entenderia o que eu fazia naquele lugar, naquela profissão, naquela condição de auxiliar!

Na verdade nem eu entendia bem…

Minha mãe e meu pai, com meu irmão mais velho, Binho

Tudo havia mudado tão abruptamente em minha vida que eu era uma mistura de assustado e determinado naquele momento. Do tudo ao nada.

Perdera meu pai, junto, minha família e, pobre, toquei minha existência… Precisei ser forte comigo mesmo e superar -me  à própria vida. Eu sempre fui um apaixonado pela vida e pelas novidades. Apaixonara-me por televisão e foi na TV Excelsior que encontrei meu primeiro acalanto.

Era início dos anos sessenta e, a pedido de meu pai fui levar uma correspondência sigilosa para o diretor de tele-jornalismo da emissora, como ele não estava, esperei.

Jornal Shopping News

Nossa família era proprietária de alguns empreendimentos, entre os quais, um grande jornal em São Paulo e lá eu trabalhava desde moleque ziguezagueando por entre as bobinas, linotipos e a enorme rotativa. Enquanto esperava na televisão pelo diretor de jornalismo, fui conhecer um pouco daquele mundo até então distante de mim.

Inauguração da TV Excelsior de São Paulo, em 9 de julho de 1960

O entrar e sair dos cenários, a orquestra afinando seus instrumentos, aquela correria toda pelos corredores. As luzes se ajustando, o palco e sua imensa cortina, as meninas se aprontando. Jamais consegui tirar de minha cabeça aquelas imagens, o clima de puro êxtase.

Aquele seria meu mundo. Nunca mais saí de televisão.

Com a morte de meu pai em 65,  pedi minha efetivação na Televisão e de auxiliar de câmera, passei a câmera-man e a carreira seguiu naturalmente.  O tempo foi andando quando eu soube que, minha linda namorada de tempos de escola, estava de casamento marcado com um diretor de Tv, meu colega de ofício.

Sucumbiu minha cabeça…

Sabe quando vc acalenta alguém em seu coração?

Meus sentimentos mais profundos eu os reservara pra ela, sem nunca ter-lhes revelado!

Loucura? Talvez.

Pois é, foi o que fiz e faço desde sempre.

Linda e meiga a menina do colégio…

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *